segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Desmistificando a epilepsia
Neurocirurgião contextualiza os sintomas da doença, como a crise epiléptica

O pintor holandês Vincent van Gogh, os escritores Fiódor Dostoiévski e o brasileiro Machado de Assis não tinham em comum apenas o talento artístico-literário. Esses gênios compartilhavam também uma doença que atinge cerca de 50 milhões de pessoas no mundo: a epilepsia, que tem como sintoma mais conhecido entre a população o ataque epilético. Machado de Assis, por exemplo, chegou a descrever a epilepsia em uma de suas obras, em Memórias Póstumas de Brás Cubas: "Não digo que se carpisse; não digo que se deixasse rolar pelo chão, epiléptica (...)".

Dr. Luiz Daniel Cetl, neurocirurgião especialista em epilepsia, explica que a doença é uma síndrome caracterizada por um conjunto de sintomas que são originados de um grupo de neurônios disfuncionantes, que emitem sinais atípicos ou irregulares. No Brasil, a taxa de epilepsia é de aproximadamente 1,8%, sendo mais comum na infância. “As crises da doença podem ser dividas, em parciais, que atingem apenas uma parte do cérebro, ou generalizadas, que afetam todo o órgão”. A epilepsia não é contagiosa, em uma doença mental, esclarece Cetl, esplecialista pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), membro do grupo de tumores do Departamento de Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e integrante da diretoria da Associação dos Neurocirurgiões do Estado de São Paulo (SONESP).

O médico subdivide ainda as crises parciais, que podem ser divididas em simples, sem o comprometimento da consciência, e complexas, em que há algum grau de comprometimento da consciência, como seu enfraquecimento, ou até mesmo a sua perda. “Outro tipo da doença é caracterizado como crise parcial complexa, quando o paciente epiléptico pode apresentar ‘desligamentos’, mostrar olhar fixo e perder o contato por alguns segundos com o meio que o cerca, fazendo movimentos automáticos. Quando ocorrem esses movimentos involuntários, a pessoa pode ficar mastigando, falar de modo incompreensível ou andar sem direção definida. Em geral, o paciente não se recorda do que aconteceu”, conta o neurocirurgião.

Luiz Daniel desmitifica que, apesar do sintoma da epilepsia mais conhecido entre a população ser caracterizado como “ataque epiléptico”, em que a pessoa perde a consciência e cai no chão, apresentando contrações musculares em todo o corpo, mordedura da língua, salivação intensa, respiração ofegante e, às vezes, até urinar, os sintomas da doença podem ser variados, dependendo da localização do grupo de neurônios, como flashes e luzes à movimentação espontânea e incontrolável de mãos, braços e pernas.

O tratamento convencional para a epilepsia é por via medicamentosa, com uso das chamadas drogas antiepilépticas (DAE), eficazes em cerca de 70% dos casos (há controle das crises) e com efeitos colaterais diminutos. Quando não há controle destes sintomas, outros tratamentos possíveis são a cirurgia, a estimulação do nervo vago e dieta cetogênica. No entanto, apenas um profissional, analisando o caso, poderá indicar o tratamento apropriado para o paciente.

Por fim, o neurocirurgião ressalta que o objetivo do tratamento é garantir uma melhor qualidade de vida ao paciente. “Quando não tratadas, a qualidade de vida do epiléptico é fortemente afetada. Por não ter controle das crises, muitas vezes o paciente não consegue manter o emprego e/ou os estudos, além de estar mais propício a acidentes. Outra grave consequência é relacionada ao estado de mal convulsivo (várias convulsões seguidas, sem recuperação entre elas), que se não tratado rapidamente, pode levar a danos cerebrais definitivos. No entanto, com acompanhamento médico e, consequentemente, com o devido tratamento, pacientes com epilepsia levam uma vida normal, muitos alcançando destaque profissionalmente”.

Fonte para entrevista:

Dr. Luiz Daniel Cetl é referência no tratamento das epilepsias e tumores cerebrais. Especialista pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), membro do grupo de tumores do Departamento de Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e integrante da diretoria da Associação dos Neurocirurgiões do Estado de São Paulo (SONESP). Atua ainda como preceptor de cirurgia de tumores cerebrais no Departamento de Neurocirurgia da Unifesp.

Dr. Luiz Cetl na Web:

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