Na última quarta-feira, 27 de março, o Conselho
Indigenista Missionário (Cimi) divulgou uma nota pública sobre decisão do
governo federal de criar uma estrutura para impedir qualquer forma de
manifestação das populações afetadas por grandes projetos. Foi no último dia 12,
quando a presidente Dilma Rousseff baixou um decreto que criou o Gabinete
Permanente de Gestão Integrada para a Proteção do Meio Ambiente.
Este decreto regulamenta a atuação das Forças
Armadas na proteção ambiental, com a criação da Companhia de Operações
Ambientais da Força Nacional de Segurança. De caráter preventivo ou repressivo,
este grupo tem em suas atribuições o “auxílio à realização de levantamentos e
laudos técnicos sobre impactos ambientais negativos”. De acordo com o Cimi, isso
na prática significa a criação de instrumento estatal para reprimir toda e
qualquer ação de comunidades tradicionais, povos indígenas e outros segmentos
populacionais que se posicionem contra empreendimentos que impactem seus
territórios”. A seguir, a íntegra da nota do Cimi:
Nota Pública – Governo federal monta nova operação
de guerra contra o povo Munduruku
Brasília, 27 de março de 2013
Depois de sofrer ataque da Polícia Federal em
novembro de 2012, durante a Operação Eldorado, que resultou no assassinato do
indígena Adenilson Kirixi e na destruição da aldeia Teles Pires, o povo
Munduruku, que vive na divisa do Pará com o Mato Grosso, está prestes a sofrer
mais um violento ataque policial e militar. De acordo com informações de
observadores locais, cerca de 250 homens fortemente armados estão posicionados
em Itaituba (PA) para a realização da agora denominada Operação Tapajós. Após
receber sinal verde da presidenta Dilma Rousseff, um contingente com agentes da
PF, Força Nacional, Polícia Rodoviária Federal e Força Aérea foi deslocado para
as proximidades da Terra Indígena Munduruku com o objetivo de realizar - à força
- o estudo integrado de impactos ambientais para a construção do chamado
Complexo Hidrelétrico do Tapajós. Há alguns anos o povo Munduruku vem se
posicionando firmemente contra qualquer empreendimento envolvendo o referido
Complexo Hidrelétrico em suas terras já demarcadas ou tradicionalmente ocupadas.
Os procuradores da República que denunciaram à Justiça Federal de Santarém a
flagrante ilegalidade da Operação Tapajós são os mesmos que investigam os danos
da Operação Eldorado; dizem temer por uma repetição do deplorável episódio.
Afirmam os procuradores que o clima é de tensão. Entre os dias 18 e 23 de
fevereiro, 20 lideranças Munduruku estiveram em Brasília para cobrar reparações
dos danos causados pela Operação Eldorado e, apesar da insistência do governo,
se negaram a discutir a construção de usinas hidrelétricas. Na ocasião, o
ministro Gilberto Carvalho afirmou que a negativa dos indígenas era ruim para o
governo, mas ficaria ruim também para eles, Munduruku. No dia 12 de março, a
presidenta Dilma Rousseff baixou o decreto nº 7.957 – que cria o Gabinete
Permanente de Gestão Integrada para a Proteção do Meio Ambiente, regulamenta a
atuação das Forças Armadas na proteção ambiental e altera o Decreto nº 5.289, de
29 de novembro de 2004. Com esse decreto, “de caráter preventivo ou repressivo”,
foi criada a Companhia de Operações Ambientais da Força Nacional de Segurança
Pública, tendo como uma de suas atribuições “prestar auxílio à realização de
levantamentos e laudos técnicos sobre impactos ambientais negativos”. Na prática
isso significa a criação de instrumento estatal para reprimir toda e qualquer
ação de comunidades tradicionais, povos indígenas e outros segmentos
populacionais que se posicionem contra empreendimentos que impactem seus
territórios. Com essas medidas, o governo federal demonstra claramente que não
está disposto a ouvir as populações afetadas pelos grandes projetos, a exemplo
das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Substitui os
instrumentos legais de escuta às comunidades - como a consulta prévia assegurada
pela Convenção 169 da OIT - pela força repressora do Estado e transforma os
conflitos socioambientais em casos de intervenção militar. Dessa forma, os
direitos dos povos passam a ser tratados como crimes contra a ”ordem pública”,
caminhando para um Estado de Exceção. Essas ações do governo brasileiro
confirmam a tese apresentada pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos quando
afirma que atualmente vivemos em sociedades politicamente democráticas, mas
socialmente fascistas, onde toda dissidência é criminalizada. Em plena Semana
Santa, Cristo segue seu calvário e é crucificado junto com os Munduruku e os
demais povos indígenas no Brasil. Conselho Indigenista Missionário –
Cimi
“É urgente o estabelecimento de estruturas
nacionais e diocesanas destinadas não apenas a acompanhar os migrantes e
refugiados, como também a se empenharem junto aos organismos da sociedade civil,
para que os governos tenham uma política migratória que leve em conta os
direitos das pessoas em mobilidade”. (DGAE, 2011-2015, n. 111)
É viva, histórica e atuante a presença da Igreja
no campo da mobilidade humana, seja em seu ensinamento social, seja por
intermédio de grupos e ações pastorais, seja a partir de reflexões e
articulações junto a outros segmentos da sociedade civil e do Estado. Diante da
complexidade inerente ao nosso tempo, urge somar esforços para assegurar a
dignidade e a plena cidadania aos homens e mulheres que, por várias
circunstâncias ou por necessidade, vivem a condição de migrantes ou de
itinerantes. As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil expressam
esse cuidado pastoral e reiteram a caminhada da Igreja junto às pessoas em
mobilidade.
Em dezembro de 2003, na reunião do CONSEP, a CNBB
instituiu o Setor Pastoral da Mobilidade Humana – PMH, com a finalidade de
promover a articulação nacional sob o eixo e horizonte da Mobilidade Humana ,
estimulando e favorecendo a caminhada de cada Pastoral em sua especificidade e
criando um espaço de partilha dos caminhos percorridos e dos desafios colocados
à ação da Igreja junto ao complexo campo da mobilidade humana.
Ao longo dos quase 10 anos de existência, a PMH
foi ampliando sua abrangência e atenção aos diversos segmentos da sociedade e
atualmente congrega, além das Pastorais mencionadas à época da criação do setor
- Refugiados, Migrantes, Nômades, Marítimos, Pescadores, Caminhoneiros (Pastoral
da Estrada) – a Pastoral do Turismo, a Missão Católica Polonesa, a Pastoral
Nipo-brasileira, bem como outras que, embora não formalmente constituídas, são
atuantes no campo da mobilidade humana, tais como: a Obra de Maria”, que atua
junto aos circenses e que difunde a Palavra de Deus através do Circo; e o Núcleo
dos Estudantes Internacionais, formado em 2012, juntamente com a Pastoral da
Universidade.
Assim, permanece atual e significativo o objetivo
proposto inicialmente: “Favorecer o aprofundamento da temática da Mobilidade
Humana e articular as Pastorais do Setor, para a integração das atividades que a
Igreja desenvolve neste âmbito, dando visibilidade ao fenômeno da mobilidade
humana em suas várias formas e expressões, com vistas a contribuir para uma nova
sociedade onde ninguém se sinta estrangeiro ou excluído”.
Sempre voltado ao fortalecimento das Pastorais e
à articulação das mesmas através da reflexão, do aprofundamento de temas
específicos e do intercâmbio de experiências e ações pastorais, buscou-se desde
o início consolidar o diálogo interno por meio de encontros nacionais,
realizados a cada dois anos, alternados com reuniões da equipe ampliada,
constituída pelos coordenadores nacionais de cada Pastoral:
- 1º Encontro Nacional, Brasília, 05 e
06/10/2005: “A ação pastoral e os desafios da Mobilidade Humana, hoje”;- 2º
Encontro Nacional, Brasília, 16 a 18/07/2007: “Discípulos e Missionários no
mundo da Mobilidade Humana. A V Conferência de Aparecida: desafios e
perspectivas”;- 3º Encontro Nacional, Brasília, 16 e 17/09/2009: “Acolhida e
Mobilidade Humana: desafios e perspectivas”;- 4º Encontro Nacional, Brasília,
05 a 7/10/2011: “Deslocamentos humanos provocados pelas mudanças climáticas,
catástrofes naturais e tecnológicas”.
Vale referir ainda algumas publicações produzidas
pela PMH em parceria com outras instituições e órgãos governamentais:
- Mobilidade Humana no Brasil – Orientações
Pastorais (2009);- Seminário Nacional sobre Enfrentamento ao Tráfico de
Pessoas (2010);- Tráfico de Pessoas e Trabalho Escravo – II Seminário Nacional
(2012).
O Documento de Aparecida conclama a Igreja e a
sociedade toda a olhar para os rostos sofridos de Cristo, presentes nos novos
excluídos da sociedade – os migrantes, os deslocados e refugiados, as vítimas da
violência, do tráfico de pessoas, as mulheres maltratadas vítimas da exclusão e
do tráfico, as pessoas que vivem nas ruas das grandes cidades, entre outros.
(cfr. n. 402). Chamados, pois, a uma ação pastoral mais efetiva junto às
vitimas de tráfico de pessoas, seja ele para trabalho escravo, para fins de
exploração sexual, para adoção ilegal ou para extração de órgãos, a PMH assume o
GT de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, constituído em 2010, pelo
secretário-geral da CNBB, D. Dimas Lara Barbosa. Amplia, assim, sua ação e,
desde logo, soma-se a outras instituições e iniciativas por uma Campanha da
Fraternidade sobre o tema. Alcançada a aprovação desta proposta pela CNBB,
intensifica o aprofundamento da temática e reúne esforços e mergulha, com as
demais Comissões e Setores da CNBB, na preparação da CF 2014 - “Fraternidade e
Tráfico Humano” – com o lema “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou”.
A messe é grande e poucos são os operários! Que o
chamado de Jesus nos fortaleça nessa caminhada em que homens e mulheres pelos
caminhos da migração e da itinerância buscam construir juntos as bases de uma
cidadania universal e, portanto, de uma sociedade onde reinem a justiça, a
solidariedade, a caridade.
O assessor da Comissão para a Juventude, da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, padre Carlos Sávio Ribeiro,
teve um encontro com o Papa Francisco, no último dia 26 de março, no Vaticano.
Na ocasião, padre Sávio entregou ao Papa um kit da Jornada Mundial da Juventude,
contendo uma camisa e uma revista, produzida pelo grupo ‘Jovens Conectados’,
ligado à CNBB, mostrando o trabalho que a Igreja Católica, no Brasil, realiza
junto à juventude.
O padre disse ao Papa que será uma alegria
recebê-lo, no mês de julho, no Brasil, para a Jornada Mundial da Juventude. Ele
conta que o Santo Padre manifestou alegria e disse: “Que bonito! Quero
participar de tudo, com muita intensidade”. O Papa também adiantou que a revista
o ajudará a entender o trabalho da Igreja junto à juventude, no Brasil. No final
da conversa, o Papa abençoou o padre e disse: “Continue firme e nos veremos no
Brasil”.
Para o padre Sávio, o encontro com o Papa
significou renovação do compromisso sacerdotal e reforçou a opção de se dedicar
ao trabalho com os jovens, no Brasil. “Participar da primeira Semana Santa do
pontificado do Papa Francisco foi uma grande graça. As atitudes dele e o modo
simples e atencioso para com as pessoas me comoveram bastante”,
destaca.
Brasília, 01 de abril de 2013.
Feliz Páscoa, caros irmãos Párocos e
Administradores Paroquiais,
Vigários Paroquiais e demais Presbíteros.
“Jesus disse: Alegrai-vos!” (Jo 28, 9)
Neste mês de abril teremos todo ele permeado das
alegrias da Páscoa! Ou somos pessoas de Páscoa ou não somos nem mesmo cristãos!
A ótica da Ressurreição deve perpassar tudo: a vida pessoal e comunitária, os
sonhos e sentimentos, os projetos pastorais e os ambientes nos quais
trabalhamos. Carregamos, como educadores e evangelizadores dos jovens, uma
responsabilidade muito grande de testemunhar a eles a nossa plena convicção e
realização no Cristo!
Passado o precioso tempo quaresmal no qual
tivemos a oportunidade de refletir com a Campanha da Fraternidade sobre a
juventude, agora somos convidados a rever e refazer as propostas pastorais para
que sejam mais de acordo com a opção preferencial pelos jovens. Então,
- quais novos projetos estão sendo criados em
sua paróquia a partir da CF e à luz da JMJ?
- sua paróquia já elaborou um Plano de
Evangelização da Juventude?
- as estruturas, as organizações e os adultos
estão mais sensibilizados pela juventude?
- em quais espaços de decisão da vida paroquial
os jovens estão presentes efetivamente?
- como a catequese de crisma tem abordado, por
exemplo, assuntos relacionados às vocações e projeto de vida, à afetividade e
sexualidade, à sensibilidade diante dos mais pobres e iniciativas de
voluntariado, à internet e relacionamentos midiáticos, ao álcool e drogas?
A Peregrinação da Cruz e do Ícone de Nossa
Senhora têm nos mostrado os jovens entusiasmados por Cristo e pela Igreja. Onde
a eles são proporcionadas motivações profundas e ocasiões juvenis criativas, ali
eles se sentem cativados e comprometidos.
Estamos às portas da Jornada Mundial da Juventude
no Brasil. Aproveitemos deste rico momento para incrementar as ações paroquiais
junto aos jovens. Promovamos encontros periódicos formativos e espirituais com
aqueles que se preparam para tal evento. Que tal uma Adoração Eucarística ou
Vigília mensal? Ou uma Celebração da Palavra com momento de estudos? Há muitas
iniciativas positivas espalhadas pelo país! Preparemos com intensidade a Semana
Missionária que acontecerá em todas as dioceses do Brasil dos dias16 a20 de
julho. E criemos atividades paroquiais ou diocesanas dos dias23 a28 de julho
para aqueles jovens que não poderão participar da JMJ no Rio.
Damos graças a Deus pela nomeação de nosso
querido Papa Francisco que já tem conquistado o coração de todos! No Domingo de
Ramos – Dia Mundial da Juventude – ele declarou sua expectativa para o encontro
conosco na JMJ Rio 2013, dizendo: “Já estamos perto da próxima etapa desta
grande peregrinação da Cruz. Olho com alegria o próximo mês de Julho, no Rio de
Janeiro. [...] Preparem-se bem, sobretudo espiritualmente em suas comunidades
para que aquele encontro seja um sinal de fé para o mundo inteiro. Os jovens
devem dizer ao mundo: é bom seguir a Jesus; é bom caminhar com Jesus; é boa a
mensagem de Jesus; é bom sair de si mesmo para as periferias do mundo e da
existência para levar Jesus”.
A sua bênção, querido Pastor, Papa Francisco! Nós
o aguardamos de coração aquecido, de ouvidos abertos, de olhos emocionados, de
mãos dispostas a colaborar com a missão da Igreja para os novos tempos! Seja
bem-vindo ao calor desta juventude que o ama!
Que a força do Ressuscitado encha nossas
comunidades paroquiais de colorido novo e juvenil e que não percamos este
momento favorável à vida e à vocação de nossos jovens. O Espírito Santo quer
este novo e a juventude está nos comunicando fortemente que está disposta a
fazer mais! Resta saber se nossas comunidades paroquiais estão acolhendo este
kairós!
A Mãe Aparecida nos ensine, novamente, como ouvir
o chamado do Pai, carregar o seu Filho em nossa existência, abrir-nos ao novo do
Espírito que muito nos fala pela vida e pela voz dos jovens.
Grande abraço, na paz do Ressuscitado.
Dom Eduardo Pinheiro da Silva
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a
Juventude da CNBB
Papa Francisco presidiu na manhã deste Domingo,
31 de março, na Praça São Pedro, a Missa da Páscoa do Senhor. Milhares de fiéis
e peregrinos de todas as partes do mundo acorreram ao coração do catolicismo
para celebrar com toda a Igreja a ressurreição do Senhor.
Após uma noite chuvosa, Roma teve uma manhã de
céu azul entremeado por nuvens, num clima pré-primaveril. Praça São Pedro, Praça
Pio XII e Via da Conciliação tomadas por uma multidão de diversas proveniências,
facilmente identificados pelas tantas cores de bandeiras. A cor azul celeste da
bandeira Argentina era predominante, mas também chamava a atenção o verde das
bandeiras do Brasil, o amarelo e branco do Vaticano. Também muitas bandeiras da
Espanha, Alemanha, Venezuela, Colômbia, Líbano e tantos outros países. Inúmeras
faixas saudavam o novo Pontífice.
A cerimônia iniciou às 10h15min com o rito do
“Ressurexit”, ou seja, o anúncio da Ressurreição do Senhor, acompanhado pela
colocação de um ícone junto ao altar e terminou às 11h37min horário
italiano.
Ao início da Missa da Páscoa, o rito penintencial
foi substituído, de certo modo, pela aspersão. O Santo Padre aspergiu o povo com
água da fonte batismal, que estava próxima ao altar. A Missa de Páscoa não foi
concelebrada e não foi feita homilia, pois ao final, o Papa concede a Bênção
Urbi et Orbi. Neste ano houve uma simplificação da cerimônia, com o Evangelho
sendo lido somente em latim, e não em grego e latim, como comumente é
realizado.
A Guarda Suíça e as três armas italianas, com
suas respectivas bandas e uniformes coloridos, fizeram-se presentes para a
solene cerimônia. A praça estava decorada com vegetação e flores doadas por
produtores holandeses. As cores predominantes eram o branco e amarelo, cores do
Vaticano.
Ao final da cerimônia, após cantado o Regina
Coeli e entoado o Aleluia de Handel, o Santo Padre saudou alguns
presentes e percorreu a Praça São Pedro no Jeep Papal, para alegria da multidão
que o aguardava e o saudava efusivamente. Como tem feito nas suas passagens
entre a multidão, parou diversas vezes para saudar alguns nenês e abraçou
longamente um menino deficiente, numa cena comovente.
Após, se dirigiu ao balcão central da Basílica de
São Pedro para conceder a Bênção Urbi et Orbi e a Indulgência Plenária
aos presentes e a quantos acompanhavam pelos meios de comunicação, com a
felicitação de Páscoa.
Após a celebração da Missa de Páscoa, Papa
Francisco assomou ao balcão central da Basílica de São Pedro para conceder a
tradicional Benção Urbi et Orbi (para a cidade e o mundo), a Indulgência
Plenária e os augurios de Boa Páscoa.
Antes da leitura da mensagem e após conceder a
Indulgência, as bandas da Guarda Suiça e das Armas italianas executaram trechos
dos hinos Pontifício e da Itália.
Na mensagem Urbi et Orbi, o Santo Padre
falou sobre como Jesus e sua misericórdia são a resposta a tantos desertos
atravessados pelo homem hoje, apelou pela paz em todo o mundo, especialmente
naquelas regiões palco de conflitos e nos convidou a sermos guardiões da
criação.
Eis na íntegra a mensagem:
“Amados irmãos e irmãs de Roma e do mundo
inteiro, boa Páscoa!
Que grande alegria é para mim poder dar-vos este
anúncio: Cristo ressuscitou! Queria que chegasse a cada casa, a cada família e,
especialmente onde há mais sofrimento, aos hospitais, às prisões... Sobretudo
queria que chegasse a todos os corações, porque é lá que Deus quer semear esta
Boa Nova: Jesus ressuscitou, uma esperança despertou para ti, já não estás sob o
domínio do pecado, do mal! Venceu o amor, venceu a misericórdia!
Também nós, como as mulheres discípulas de Jesus
que foram ao sepulcro e o encontraram vazio, nos podemos interrogar que sentido
tenha este acontecimento (cf. Lc 24, 4). Que significa o fato de Jesus
ter ressuscitado? Significa que o amor de Deus é mais forte que o mal e a
própria morte; significa que o amor de Deus pode transformar a nossa vida, fazer
florir aquelas parcelas de deserto que ainda existem no nosso coração.
Este mesmo amor pelo qual o Filho de Deus Se fez
homem e prosseguiu até ao extremo no caminho da humildade e do dom de Si mesmo,
até a morada dos mortos, ao abismo da separação de Deus, este mesmo amor
misericordioso inundou de luz o corpo morto de Jesus e transfigurou-o, o fez
passar à vida eterna. Jesus não voltou à vida que tinha antes, à vida terrena,
mas entrou na vida gloriosa de Deus e o fez com a nossa humanidade, abrindo-nos
um futuro de esperança. Eis o que é a Páscoa: é o êxodo, a passagem do homem da
escravidão do pecado, do mal, à liberdade do amor, do bem. Porque Deus é vida,
somente vida, e a sua glória é o homem vivo (cf. Ireneu, Adversus
haereses, 4, 20, 5-7).
Amados irmãos e irmãs, Cristo morreu e
ressuscitou de uma vez para sempre e para todos, mas a força da Ressurreição,
esta passagem da escravidão do mal à liberdade do bem, deve realizar-se em todos
os tempos, nos espaços concretos da nossa existência, na nossa vida de cada dia.
Quantos desertos tem o ser humano de atravessar ainda hoje! Sobretudo o deserto
que existe dentro dele, quando falta o amor a Deus e ao próximo, quando falta a
consciência de ser guardião de tudo o que o Criador nos deu e continua a dar.
Mas a misericórdia de Deus pode fazer florir mesmo a terra mais árida, pode
devolver a vida aos ossos ressequidos (cf. Ez 37, 1-14).
Eis, portanto, o convite que dirijo a todos:
acolhamos a graça da Ressurreição de Cristo! Deixemo-nos renovar pela
misericórdia de Deus, deixemo-nos amar por Jesus, deixemos que a força do seu
amor transforme também a nossa vida, tornando-nos instrumentos desta
misericórdia, canais através dos quais Deus possa irrigar a terra, guardar a
criação inteira e fazer florir a justiça e a paz.E assim, a Jesus ressuscitado
que transforma a morte em vida, peçamos para mudar o ódio em amor, a vingança em
perdão, a guerra em paz. Sim, Cristo é a nossa paz e, por seu intermédio,
imploramos a paz para o mundo inteiro.
Paz para o Oriente Médio, especialmente entre
israelitas e palestinos, que sentem dificuldade em encontrar a estrada da
concórdia, a fim de que retomem, com coragem e disponibilidade, as negociações
para pôr termo a um conflito que já dura há demasiado tempo. Paz no Iraque, para
que cesse definitivamente toda a violência, e sobretudo para a amada Síria, para
a sua população vítima do conflito e para os numerosos refugiados, que esperam
ajuda e conforto. Já foi derramado tanto sangue… Quantos sofrimentos deverão
ainda atravessar antes de se conseguir encontrar uma solução política para a
crise?
Paz para a África, cenário ainda de sangrentos
conflitos: no Mali, para que reencontre unidade e estabilidade; e na Nigéria,
onde infelizmente não cessam os atentados, que ameaçam gravemente a vida de
tantos inocentes, e onde não poucas pessoas, incluindo crianças, são mantidas
como reféns por grupos terroristas. Paz no leste da República Democrática do
Congo e na República Centro-Africana, onde muitos se vêem forçados a deixar as
suas casas e vivem ainda no medo.
Paz para a Ásia, sobretudo na península coreana,
para que sejam superadas as divergências e amadureça um renovado espírito de
reconciliação.
Paz para o mundo inteiro, ainda tão dividido pela
ganância de quem procura lucros fáceis, ferido pelo egoísmo que ameaça a vida
humana e a família – um egoísmo que faz continuar o tráfico de pessoas, a
escravatura mais extensa neste século vinte e um. Paz para todo o mundo
dilacerado pela violência ligada ao narcotráfico e por uma iníqua exploração dos
recursos naturais. Paz para esta nossa Terra! Jesus ressuscitado leve conforto a
quem é vítima das calamidades naturais e nos torne guardiões responsáveis da
criação.
Amados irmãos e irmãs, originários de Roma ou de
qualquer parte do mundo, a todos vós que me ouvis, dirijo este convite do Salmo
117: «Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterno o seu amor. Diga a
casa de Israel: É eterno o seu amor» (vv. 1-2)”.
Antes da leitura da mensagem e após conceder a
Indulgência, as bandas da Guarda Suiça e das Armas italianas executaram trechos
dos hinos Pontifício e da Itália.
Ao final, o Papa Francisco saudou em italiano a
todos os presentes e a quantos acompanhavam a cerimônia através dos meios de
comunicação, desejando que levassem as suas familias e aos países de origem “a
mensagem de alegria, de esperanza e de paz, que a cada ano se renova com força.
O Senhor resucitado, vencedor do pecado e da morte, seja o sustento a todos,
especialmente os mais fracos e necesitados.”
O Santo Padre também agradeceu aos produtores dos
Países Baixos que doaram as ‘belíssimas flores’ que ornamentaram a Praça São
Pedro e o altar.
“A todos repito com afeto – disse – Cristo
resucitado guie a todos vocês e toda a humanidade no caminho da justiça, do amor
e da paz”, concluiu.
Ao final da cerimônia, os sinos da Basílica de
São Pedro repicaram efusivamente, em manifestação pela alegria do Senhor
ressuscitado.
Seguindo o costume dos seus antecessores, Papa
Francisco celebrou a Via Sacra no Coliseu de Roma. A celebração contou com a
participação, em uma das estações, de dois jovens brasileiros lembrando a
Jornada Mundial da Juventude. Havia uma multidão do lado de fora de um dos mais
conhecidos da cidade histórica.
As palavras do Papa na Via Sacra, segundo a
agência ZENIT:
Amados irmãos e irmãs, Agradeço-vos por terdes participado, em
tão grande número, neste momento de intensa oração. E agradeço também a todos
aqueles que se uniram a nós através dos meios de comunicação, especialmente aos
doentes e aos idosos. Não quero acrescentar muitas palavras. Nesta noite, deve
permanecer uma única palavra, que é a própria Cruz. A Cruz de Jesus é a Palavra
com que Deus respondeu ao mal do mundo. Às vezes parece-nos que Deus não
responda ao mal, que permaneça calado. Na realidade, Deus falou, respondeu, e a
sua resposta é a Cruz de Cristo: uma Palavra que é amor, misericórdia,perdão. É
também julgamento: Deus julga amando-nos. Se acolho o seu amor, estou salvo; se
o recuso, estou condenado, não por Ele, mas por mim mesmo, porque Deus não
condena, Ele unicamente ama e salva. Amados irmãos, a palavra da Cruz é também a
resposta dos cristãos ao mal que continua a agir em nós e ao nosso redor. Os
cristãos devem responder ao mal com o bem, tomando sobre si a cruz, como Jesus.
Nesta noite, ouvimos o testemunho dos nossos irmãos do Líbano: foram eles que
prepararam estas belas meditações e preces. De coração lhes agradecemos por este
serviço e sobretudo pelo testemunho que nos dão. Vimo-lo quando o Papa Bento foi
ao Líbano: vimos a beleza e a força da comunhão dos cristãos naquela Nação e da
amizade de tantos irmãos muçulmanos e muitos outros . Foi um sinal para todo o
Médio Oriente e para o mundo inteiro: um sinal de esperança. Então continuemos
esta Via-Sacra na vida de todos os dias. Caminhemos juntos pela senda da Cruz,
caminhemos levando no coração esta Palavra de amor e de perdão. Caminhemos
esperando a Ressurreição de Jesus.
O Papa Francisco presidiu na noite deste Sábado
Santo, na Basílica de São Pedro a solene Vigília de Páscoa. O Rito teve início
no átrio da Basílica com a Benção do Fogo e a preparação do Círio Pascal.
Durante a procissão em direção do Altar com o Círio Pascal aceso cantou-se o
Exultet; em seguida a Liturgia da Palavara, a Liturgia Batismal – durante a qual
o Papa administrou os Sacramentos da iniciação cristã (Batismo, Crisma e
Primeira Comunhão) a 4 neófitos, provenientes da Itália, Albânia, Rússia e
Estados Unidos.
Eis na íntegra a homilia proferida pelo Papa
Francisco em italiano:
Amados irmãos e irmãs!
1. No Evangelho desta noite luminosa da Vigília
Pascal, encontramos em primeiro lugar as mulheres que vão ao sepulcro de Jesus
levando perfumes para ungir o corpo d’Ele (cf. Lc 24, 1-3). Vão cumprir um gesto
de piedade, de afeto, de amor, um gesto tradicionalmente feito a um ente querido
falecido, como fazemos nós também. Elas tinham seguido Jesus, ouviram-No,
sentiram-se compreendidas na sua dignidade e acompanharam-No até ao fim no
Calvário e ao momento da descida do seu corpo da cruz. Podemos imaginar os
sentimentos delas enquanto caminham para o túmulo: tanta tristeza, tanta pena
porque Jesus as deixara; morreu, a sua história terminou. Agora se tornava à
vida que levavam antes. Contudo, nas mulheres, continuava o amor, e foi o amor
por Jesus que as impelira a irem ao sepulcro. Mas, chegadas lá, verificam algo
totalmente inesperado, algo de novo que lhes transtorna o coração e os seus
programas e subverterá a sua vida: vêem a pedra removida do sepulcro,
aproximam-se e não encontram o corpo do Senhor. O caso deixa-as perplexas,
hesitantes, cheias de interrogações: «Que aconteceu?», «Que sentido tem tudo
isto?» (cf. Lc 24, 4). Porventura não se dá o mesmo também conosco, quando
acontece qualquer coisa de verdadeiramente novo na cadência diária das coisas?
Paramos, não entendemos, não sabemos como enfrentá-la. Frequentemente mete-nos
medo a novidade, incluindo a novidade que Deus nos traz, a novidade que Deus nos
pede. Fazemos como os apóstolos, no Evangelho: muitas vezes preferimos manter as
nossas seguranças, parar junto de um túmulo com o pensamento num defunto que, no
fim de contas, vive só na memória da história, como as grandes figuras do
passado. Tememos as surpresas de Deus; temos medo das surpresas de Deus! Ele não
cessa de nos surpreender! Irmãos e irmãs, não nos fechemos à novidade que Deus
quer trazer à nossa vida! Muitas vezes sucede que nos sentimos cansados,
desiludidos, tristes, sentimos o peso dos nossos pecados, pensamos que não
conseguimos? Não nos fechemos em nós mesmos, não percamos a confiança, não nos
demos jamais por vencidos: não há situações que Deus não possa mudar; não há
pecado que não possa perdoar, se nos abrirmos a Ele.
2. Mas voltemos ao Evangelho, às mulheres, para
vermos mais um ponto. Elas encontram o túmulo vazio, o corpo de Jesus não está
lá… Algo de novo acontecera, mas ainda nada de claro resulta de tudo aquilo:
levanta questões, deixa perplexos, sem oferecer uma resposta. E eis que aparecem
dois homens em trajes resplandecentes, dizendo: «Porque buscais o Vivente entre
os mortos? Não está aqui; ressuscitou!» (Lc 24, 5-6). E aquilo que começara como
um simples gesto, certamente cumprido por amor – ir ao sepulcro –, transforma-se
em acontecimento, e num acontecimento tal que muda verdadeiramente a vida. Nada
mais permanece como antes, e não só na vida daquelas mulheres mas também na
nossa vida e na história da humanidade. Jesus não está morto, ressuscitou, é o
Vivente! Não regressou simplesmente à vida, mas é a própria vida, porque é o
Filho de Deus, que é o Vivente (cf. Nm 14, 21-28; Dt 5, 26, Js 3, 10). Jesus já
não está no passado, mas vive no presente e lança-Se para o futuro: é o «hoje»
eterno de Deus. Assim se apresenta a novidade de Deus diante dos olhos das
mulheres, dos discípulos, de todos nós: a vitória sobre o pecado, sobre o mal,
sobre a morte, sobre tudo o que oprime a vida e lhe dá um rosto menos humano. E
isto é uma mensagem dirigida a mim, a ti, amada irmã e amado irmão. Quantas
vezes precisamos que o Amor nos diga: Porque buscais o Vivente entre os mortos?
Os problemas, as preocupações de todos os dias tendem a fechar-nos em nós
mesmos, na tristeza, na amargura… e aí está a morte. Não procuremos aí o
Vivente! Aceita então que Jesus Ressuscitado entre na tua vida, acolhe-O como
amigo, com confiança: Ele é a vida! Se até agora estiveste longe d’Ele, basta
que faças um pequeno passo e Ele te acolherá de braços abertos. Se és
indiferente, aceita arriscar: não ficarás desiludido. Se te parece difícil
segui-Lo, não tenhas medo, entrega-te a Ele, podes estar seguro de que Ele está
perto de ti, está contigo e dar-te-á a paz que procuras e a força para viver
como Ele quer.
3. Há ainda um último elemento, simples, que
quero sublinhar no Evangelho desta luminosa Vigília Pascal. As mulheres se
encontram com a novidade de Deus: Jesus ressuscitou, é o Vivente! Mas, à vista
do túmulo vazio e dos dois homens em trajes resplandecentes, a primeira reação
que têm é de medo: «amedrontadas – observa Lucas –, voltaram o rosto para o
chão», não tinham a coragem sequer de olhar. Mas, quando ouvem o anúncio da
Ressurreição, acolhem-no com fé. E os dois homens em trajes resplandecentes
introduzem um verbo fundamental: «Lembrai-vos de como vos falou, quando ainda
estava na Galiléia (...) Recordaram-se então das suas palavras» (Lc 24, 6.8). É
o convite a fazer memória do encontro com Jesus, das suas palavras, dos seus
gestos, da sua vida; e é precisamente este recordar amorosamente a experiência
com o Mestre que faz as mulheres superarem todo o medo e levarem o anúncio da
Ressurreição aos Apóstolos e a todos os restantes (cf. Lc 24, 9). Fazer memória
daquilo que Deus fez e continua a fazer por mim, por nós, fazer memória do
caminho percorrido; e isto abre de par em par o coração à esperança para o
futuro. Aprendamos a fazer memória daquilo que Deus fez na nossa vida. Nesta
Noite de luz, invocando a intercessão da Virgem Maria, que guardava todos os
acontecimentos no seu coração (cf. Lc 2, 19.51), peçamos ao Senhor que nos torne
participantes da sua Ressurreição: que nos abra à sua novidade que transforma,
às surpresas de Deus; que nos torne homens e mulheres capazes de fazer memória
daquilo que Ele opera na nossa história pessoal e na do mundo; que nos torne
capazes de O percebermos como o Vivente, vivo e operante no meio de nós; que nos
ensine cada dia a não procurarmos entre os mortos Aquele que está vivo. Assim
seja.
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