Um levantamento recente do
Datasus mostra que os acidentes provocados pela combustão de produtos
inflamáveis – gasolina, querosene, solvente, entre outros - cresceram no Brasil
nos primeiros três meses do ano, com mais de 40 casos em relação ao mesmo
período do ano passado. Note-se que o álcool líquido, envasado pelos associados
da ABRASPEA, está fora dessa estatística, pois sua comercialização foi proibida
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
A alegação da Anvisa para
retirar o produto do mercado foi justamente o número de acidentes – alegação que
tem por base informação comprovadamente inválida, o que deixa a decisão desta
agência federal sob suspeita.
Os maiores prejudicados são os
consumidores, que consagraram o álcool líquido 92 INPM como o produto essencial
à higiene e limpeza, além de importante bactericida. Uma pesquisa da Toledo e
Associados prova que o consumidor prefere esse tipo de álcool, o último dos
produtos de limpeza que independe de participação de grandes empresas
multinacionais.
Para agravar, ela ainda
interfere em um importante segmento da economia, com pequenos e médios
empresários que trabalham com um produto genuinamente nacional e sustentam
milhares de empregos diretos e indiretos.
Mas as contradições da Anvisa
vão além: ela própria recomenda o uso do álcool líquido em hospitais, por ser
mais eficiente que o gel na limpeza de objetos e superfícies. E também por ser
um instrumento importante no combate à disseminação da gripe suína e outros
males. Donas de casa de todo o mundo sabem disso há mais de um século. Alguns
registros relatam o uso do álcool líquido como desinfetante desde
1888.
As alternativas permitidas pela
Anvisa, o álcool gel ou o líquido até 46,3 INPM, não têm a mesma receptividade
dos consumidores. O gel, por ser mais adequado à higiene das mãos, que não era a
função do álcool 92; o líquido, em 46,3, porque a idéia de diminuição do grau
alcoólico não agrada a boa parte dos consumidores.
Ao se valer do argumento dos
acidentes, a Anvisa confessa desconhecer a realidade brasileira, o que é no
mínimo estranho para uma agência que pretende tutelar a nossa sociedade. Quando
proíbe o álcool com maior gradação alcoólica no comércio regular, a Agência de
Vigilância Sanitária retira dos consumidores esta alternativa e os empurra para
os postos de gasolina. Uma inacreditável contradição!
Nos supermercados, o maior
contingente de consumidores é o de donas de casa, pessoas responsáveis, cuja
tradição no manuseio do produto passa de geração em geração. Ainda assim, o
produto é envasado e comercializado com todas as recomendações de cautela
gravadas em suas embalagens de segurança.
Nos postos de gasolina, não:
basta uma garrafa vazia. O etanol vendido ali é o mesmo álcool 92 INPM proibido
no comércio. É procurado por sua fácil combustão para acender fogueira nas
noites frias ou em churrasqueiras, com todos os riscos inerentes e associado a
outro tipo de álcool, o que embriaga.
Esse consumo irregular é
indiretamente estimulado pela proibição do comércio regular pela Anvisa, que se
intromete na preferência das donas de casa pelo álcool. Desta maneira, a Anvisa,
ao extrapolar os objetivos de sua criação, deixa de ser instrumento de
desenvolvimento setorial e se transforma em mais um obstáculo a ser superado,
ajudando a aumentar o custo Brasil.
A Anvisa sabe dos perigos do uso
inadequado do álcool e, para combatê-lo, resolveu proibir a comercialização do
álcool líquido na graduação preferida pelos consumidores, como o envasado pelas
empresas associadas à ABRASPEA, que cumprem regras restritivas de embalagem e
manuseio. Ou seja, resolveu proibir a comercialização do produto pelo modo mais
seguro, deixando o consumidor sem alternativas, a não ser as bombas dos postos
de gasolina. Resumindo, tentou proibir o namoro tirando o sofá da
sala.
As empresas envasadoras
continuarão a recorrer à Justiça para que o bom senso prevaleça e, assim,
contribuir para que as donas de casa possam exercer seu legítimo direito de
escolha, por um produto melhor e mais seguro.
(*) José Carlos de Rezende é presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Envasadores de Álcool - Abraspea
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